O ano de 2024 começou turbulento para Ketisley Aparecida Freitas Lessa, 29, moradora de Apiaí, no estado de São Paulo. Com seis meses de gestação, a bacharel de direito levou uma picada de aranha-marrom na perna direita, no dia 5 de janeiro. Cerca de três dias após o acidente, o local da mordida começou a necrosar. Lessa sente dor na região até hoje.
“Eu estava limpando o meu quarto e fui na lavanderia. Peguei um tapete que estava guardado há um tempo e coloquei no chão. Quando sentei na cama para descansar um pouco, vi a aranha-marrom subindo na minha perna esquerda”, lembra. Lessa percebeu a picada na direita, embora não estivesse sentindo dor, e foi até o pronto-socorro.
A bióloga Beatriz Neves, professora da Estácio, explica que aranha-marrom não ataca diretamente a pessoa. Ela pica quando é comprimida ao corpo do indivíduo e se sente ameaçada, o que deve ter acontecido quando Lessa carregou o tapete que continha o aracnídeo.
“Isso pode ocorrer também quando a pessoa vai calçar um sapato ou vestir alguma roupa que ficou exposta e a aranha estava escondida”, exemplifica Neves. Além de ficar dentro das vestimentas, é comum que o animal peçonhento se esconda atrás de armários, quadros e portas das casas, além de debaixo de telhas e outros entulhos.
O processo de necrose da perna
Quando Lessa foi para o hospital, receber o primeiro atendimento, o médico que a atendeu entrou em contato com um instituto voltado ao manejo de bichos peçonhentos. No entanto, a bacharel de direito não foi medicada com o soro antiaracnídico. “Me dispensaram apenas com antibiótico e remédio para dor”, relata.
Ela começou a tomar a medicação até que, cerca de três dias depois da picada, o seu quadro piorou significativamente. “Começou a doer demais. Eu não conseguia andar. Além disso, começou a dar reação alérgica no meu corpo inteiro”, conta.
Lessa lembra de sentir coceira e vermelhidão pelo corpo inteiro. Isso fez com que ela fosse até o pronto-socorro de uma maternidade, onde acabou sendo internada, inclusive, para redobrar os cuidados com a bebê que está a caminho.
“Minha perna já estava em processo de necrose. Fiquei internada por três dias, tomando antibiótico na veia e remédio para dor. Fizeram exame de sangue e constataram veneno na corrente sanguínea, o que afetou a minha coagulação e poderia fazer eu ter uma hemorragia”, explica.
De acordo com a bióloga Júlia Farroni Bocalini, da Empresa Biológica Controle de Pragas Urbanas, a necrose do local onde a pessoa foi picada acontece devido a presença de uma substância necrotizante na aranha-marrom. “Ela favorece a formação de trombos no sangue, o que pode levar a problemas de irrigação na corrente sanguínea”, completa.
Além da necrose local, o envenenamento a longo prazo pode levar até mesmo a perda do membro caso o paciente não receba a intervenção correta.
Com a alta após três dias de internação, Lessa continuou o antibiótico em casa por mais sete dias. “Minha mãe é enfermeira e chegou a fazer laserterapia em mim. Mas eu ainda sinto incômodo no local. Já tentei tirar a casquinha, mas dói muito e dá para ver que ela está bem profunda. Inclusive, eu sentia dor no osso da perna no ápice da picada”, reflete.
A bebê não foi afetada pela picada e a gestação da bacharel de direito segue normalmente.
Cuidados para evitar a picada da aranha-marrom
– Manter quintais e jardins limpos, livres de lixos acumulados;
– Manter a grama do quintal sempre aparada, recolhendo folhas secas;
– Vedar frestas de portas e janelas para evitar o acesso deste e outros animais;
– Tampar ralos, principalmente do banheiro e da cozinha;
– Afastar camas, cômodas, armários e quadros da parede e limpar por debaixo deles;
– Examinar roupas e calçados antes de utilizá-los.
Caso o animal peçonhento venha a aparecer com frequência no ambiente residencial, é aconselhável recorrer a empresas especializadas em controle de pragas para realizar a dedetização do local.